Hoje é o dia de todas as festas para as crianças.
É o dia em que nós adultos nos esforçamos por celebrar a criança em festas
mais ou menos coloridas, com mais ou menos falas melosas, que têm o ganho
garantido de sorrisos e de uma bela fotografia para o jornal de uma qualquer coletividade,
organização e televisão.
Estamos habituados a falar das crianças, sem reflexão. Falamos do bem que
lhes fazemos e daquilo que nos propomos fazer com elevado saber e sentido de oportunidade
ao que acrescentamos a vontade férrea de no próximo ano fazer parecido e acrescentar
um doce, uma qualquer brincadeira, um jogo ou fantasia que vão alegrar as crianças
e aliviar-nos, mais uma vez, do esquecimento de afetos perdidos, não dados e
esquecidos. E neste dia vamos dormir descansados porque celebramos a criança e
por diversas vezes pensámos ou dissemos, na euforia da festa “em cada um de nós
há uma criança”.
Não é que ache mal este tipo de celebrações. Este tipo de propaganda se
quiserem.
O que entendo menos certo é não percebermos a criança no respeito merecido
pela sua dimensão enquanto ser humano, pela proteção que lhe é devida enquanto
perdura a falta de maturidade física e intelectual. Nunca nos devemos afastar da
obrigação de perceber e sentir as suas diferenças, os seus tempos, as suas
vontades, os seus pensamentos e reflexões do mundo.
A criança não quer só festa. Quer participar na festa e dizer como deve ser
a festa e quem nela deve entrar.
E é neste esquecimento, neste esvaziamento de democracia que os adultos impõem
ao mundo das crianças que me afasto da festa.
Temos de evoluir para um mundo de participação que incorpore a criança. Que
veja a “criança bébé” que carece de toda a proteção do adulto e também a
criança imputável injustamente aos 16 anos de idade, pela lei dos adultos e que
vergonhosamente desviamos da festa, da brincadeira e da participação.
Num tempo em que recorrentemente se fala em dar murros na mesa e na necessidade
de lutar, por direitos nunca nos devíamos afastar da luta, constitucionalmente consagrada,
por uma sociedade baseada na dignidade da pessoa humana. A criança tem de ser
tida como um igual, que tem o direito a opinar e a dizer de viva voz as injustiças
e o esquecimento das brincadeiras, dos carinhos e do não reconhecimento a uma participação
cívica na vida de comunidade.
Se assim acontecesse certamente que a vida das crianças e também a nossa vida
seria mais colorida, consequentemente mais alegre e justa.
Que bom seria para o nosso mundo se ouvíssemos as crianças!
João Duarte
Presidente da CPCJ de Ovar
Sem comentários:
Enviar um comentário