01/06/2013

Dia Mundial da Criança - A voz das crianças




Hoje é o dia de todas as festas para as crianças.

É o dia em que nós adultos nos esforçamos por celebrar a criança em festas mais ou menos coloridas, com mais ou menos falas melosas, que têm o ganho garantido de sorrisos e de uma bela fotografia para o jornal de uma qualquer coletividade, organização e televisão.

Estamos habituados a falar das crianças, sem reflexão. Falamos do bem que lhes fazemos e daquilo que nos propomos fazer com elevado saber e sentido de oportunidade ao que acrescentamos a vontade férrea de no próximo ano fazer parecido e acrescentar um doce, uma qualquer brincadeira, um jogo ou fantasia que vão alegrar as crianças e aliviar-nos, mais uma vez, do esquecimento de afetos perdidos, não dados e esquecidos. E neste dia vamos dormir descansados porque celebramos a criança e por diversas vezes pensámos ou dissemos, na euforia da festa “em cada um de nós há uma criança”.

Não é que ache mal este tipo de celebrações. Este tipo de propaganda se quiserem.

O que entendo menos certo é não percebermos a criança no respeito merecido pela sua dimensão enquanto ser humano, pela proteção que lhe é devida enquanto perdura a falta de maturidade física e intelectual. Nunca nos devemos afastar da obrigação de perceber e sentir as suas diferenças, os seus tempos, as suas vontades, os seus pensamentos e reflexões do mundo.

A criança não quer só festa. Quer participar na festa e dizer como deve ser a festa e quem nela deve entrar.

E é neste esquecimento, neste esvaziamento de democracia que os adultos impõem ao mundo das crianças que me afasto da festa.

Temos de evoluir para um mundo de participação que incorpore a criança. Que veja a “criança bébé” que carece de toda a proteção do adulto e também a criança imputável injustamente aos 16 anos de idade, pela lei dos adultos e que vergonhosamente desviamos da festa, da brincadeira e da participação.

Num tempo em que recorrentemente se fala em dar murros na mesa e na necessidade de lutar, por direitos nunca nos devíamos afastar da luta, constitucionalmente consagrada, por uma sociedade baseada na dignidade da pessoa humana. A criança tem de ser tida como um igual, que tem o direito a opinar e a dizer de viva voz as injustiças e o esquecimento das brincadeiras, dos carinhos e do não reconhecimento a uma participação cívica na vida de comunidade.

Se assim acontecesse certamente que a vida das crianças e também a nossa vida seria mais colorida, consequentemente mais alegre e justa.

Que bom seria para o nosso mundo se ouvíssemos as crianças!

João Duarte
Presidente da CPCJ de Ovar


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